A Fúria da Bruxa, capítulo 3: O Prefeito Eloys: O Homem por Trás da Farsa

Eloys, prefeito de Plockton, é um homem inseguro que usa palavras suaves e manipulação para esconder sua incompetência. Obcecado por manter sua posição, ele transforma Elara no inimigo comum para consolidar seu poder em meio à crescente insatisfação popular.

Eloys era o tipo de homem que inspirava desdém e zombaria em silêncio, mas que, por algum motivo inexplicável, conseguia moldar multidões com suas palavras. Era baixo, com uma postura encurvada que parecia refletir o peso de uma vida de inseguranças. Seu rosto, desprovido de atrativos, era marcado por uma pele oleosa e olhos pequenos e astutos que nunca paravam de avaliar o ambiente. Se o corpo não impressionava, a língua, afiada como uma faca, era sua maior arma.

Ele cresceu ouvindo insultos e risos abafados por sua aparência e baixa estatura. Desde jovem, Eloys aprendeu que nunca seria amado ou respeitado pelo que era, mas poderia manipular os outros pelo que dizia. Usando uma mistura de charme ensaiado e promessas vazias, ele subiu na vida, acumulando aliados tão oportunistas quanto ele. Quando concorreu ao cargo de prefeito de Plockton, surpreendeu a todos ao vencer uma eleição que muitos acreditavam ser apenas um sonho megalomaníaco de um homem pequeno.

Mas Eloys sabia que sua posição era precária. Sua inteligência não compensava sua falta de competência em assuntos administrativos, e seu governo era uma teia de aparências mantidas por discursos inflamados e ocasional distribuição de favores. Ele temia, mais do que qualquer outra coisa, ser desmascarado. Se perdesse o cargo, todos veriam o que ele realmente era: um homem pequeno, tanto em estatura quanto em espírito, uma fraude sustentada por lábia e conveniência.

Quando os sussurros sobre a bruxa Elara começaram a circular, Eloys viu uma oportunidade. Apontar um inimigo comum era a maneira mais rápida de unir o vilarejo sob sua liderança e desviar atenção de sua própria incompetência. Ele pintou Elara como a origem de todos os males que assolavam Plockton: colheitas fracassadas, desaparecimentos, e até mesmo a febre que se abatia sobre algumas famílias.

Por trás do tom confiante, Eloys estava desesperado. Cada ato de crueldade contra Elara era uma tentativa de sufocar a voz interior que o chamava de impostor. Quando ordenou sua captura, não era apenas pelo vilarejo; era pela sua sobrevivência política. Ele precisava queimar a bruxa, tanto para silenciar as suspeitas contra ela quanto para calar as próprias dúvidas que o consumiam.

Naquele dia fatídico, Eloys estava em seu gabinete quando um de seus serviçais, Col, entrou apressado, ofegante e com os cabelos ensebados. “Senhor prefeito, ela curou uma febre de crianças na aldeia usando ervas estranhas e… e feitiços. Tem que fazer alguma coisa!”

Eloys sorriu, não com alegria, mas com o alívio de um homem que encontrara o bode expiatório perfeito. Levantou-se rapidamente e esmurrou a mesa, seu rosto assumindo uma expressão de falsa indignação.

“Não toleraremos mais esse tipo de afronta em Plockton! Preparem os homens, essa bruxa será capturada ainda hoje!”

Acompanhado por seus guardas e uma turba crescente de aldeões, Eloys marchou até a cabana de Elara. Ele fez questão de liderar o grupo, não apenas para reafirmar sua autoridade, mas para garantir que a população visse seu prefeito como um homem de ação. Ao chegar, gritou, com sua voz calculadamente inflamada:

“BRUXA ELARA, em nome do rei, você está presa!”

A porta se abriu, revelando Elara, cuja aparência bela e tranquila contrastava com a fúria que emanava do grupo. Por um instante, os olhos de Eloys vacilaram, capturados pelo azul profundo dos olhos dela. Mas ele não podia se permitir fraquejar. Com um gesto abrupto, ordenou que seus homens a amarrassem.

Elara não resistiu. Sua serenidade desconcertava Eloys, mas ele disfarçou com um sorriso de triunfo. Quando a jogaram na carroça, o prefeito virou-se para a multidão e bradou:

“Esta é a mulher que trouxe desgraça a nossa terra! Hoje, faremos justiça e recuperaremos nossa paz!”

Enquanto a multidão aplaudia e gritava, Eloys sentia uma mistura amarga de euforia e pavor. Ele sabia que aquela execução poderia selar sua posição como líder, mas também sabia que estava brincando com forças que não compreendia. Por trás da fachada de confiança, Eloys continuava sendo o mesmo homem pequeno e apavorado que sempre fora.