O Preço da Eternidade, capítulo 1: Victor Lancellotti – O Bilionário em Crise

Victor Lancellotti, um bilionário obcecado por deixar um legado eterno, enfrenta sua maior crise. O que começa como um sonho de progresso humano se transforma em uma busca insaciável por imortalidade, desafiando limites éticos e mergulhando o mundo em sombras.

“Ah, humanos… Como conseguem complicar tanto a vida, mesmo quando têm apenas uma?” Essa é uma das reflexões que me acompanham enquanto observo essa espécie fascinante. E hoje, minha história é sobre um homem em particular. Vamos chamá-lo de Victor Lancellotti. Um nome pomposo, digno de sua personalidade excessivamente ambiciosa.

Victor era a personificação da perfeição ostensiva. Um homem de 40 e poucos anos, com cabelos cuidadosamente penteados, onde alguns fios grisalhos pareciam estrategicamente posicionados para conferir um ar de sabedoria. Extremamente vaidoso, ele não admitia qualquer falha em sua aparência. Sempre trajava ternos de luxo impecavelmente ajustados, geralmente feitos sob medida pelas marcas mais exclusivas do mundo. Seus sapatos, tão bem lustrados que poderiam refletir sua própria imagem, completavam o visual que exalava autoridade e controle absoluto.

Era impossível não notar sua presença em qualquer sala que entrasse. Ele andava com uma confiança quase teatral, seus passos medidos, sua postura rígida como se o mundo inteiro estivesse em um desfile onde ele era a estrela. E então havia seus olhos. Cor de âmbar, intensos e hipnotizantes, eram a ferramenta mais poderosa de sua persona. Ele era carismático, capaz de convencer multidões com poucas palavras. Mas com um único olhar, ele congelava o coração de quem estivesse por perto, trazendo uma onda de medo que ninguém ousava questionar.

Mas, ah, havia algo por trás desse verniz de perfeição que apenas olhos atentos poderiam perceber: uma faísca de desespero bem escondida naquelas íris penetrantes.

Victor era o tipo de humano que acreditava ser maior que o tempo. Literalmente. Um bilionário com uma fortuna tão vasta quanto sua arrogância, ele era visto pelo mundo como um gênio à frente de seu tempo. Inovador, visionário, salvador da humanidade — ou assim a mídia o pintava. Mas eu, Amora, via o que os outros não viam: um homem desesperado para escapar daquilo que ele não podia comprar. A morte.

Victor comandava um império em biotecnologia. Sua empresa, Lancellotti Futures, tinha seu coração pulsando em um edifício magnífico, uma construção que exprimia luxo e poder. Erguia-se tão alta que parecia desafiar os limites do céu, suas superfícies espelhadas refletindo o mundo ao redor como se fosse uma declaração silenciosa: “Aqui, dominamos o futuro.”

Dentro desse colosso, tratamentos revolucionários para doenças que antes eram sentenças de morte eram desenvolvidos. Ah, mas que ironia… esses tratamentos custavam pequenas fortunas, inacessíveis para a maioria. Apenas os privilegiados podiam tocar esses milagres, enquanto o restante da humanidade assistia de longe, com admiração e desespero misturados.

Público adorava chamá-lo de herói. Eu? Preferia “comerciante de milagres”. Afinal, o milagre só vinha para quem podia pagar. E enquanto seus admiradores erguiam monumentos à sua genialidade, Victor travava uma guerra particular contra um inimigo que nem toda a sua riqueza podia derrotar: uma doença degenerativa rara que, lentamente, consumia seu corpo.

Era uma condição cruel e implacável. Começou com algo aparentemente pequeno: tremores nas mãos, uma leve fadiga que ele atribuía ao estresse. Mas não demorou muito para que os sintomas se agravassem. Seus músculos perdiam força, seus órgãos internos mostravam sinais de falência progressiva, e, com o tempo, até sua capacidade de falar foi afetada. A ciência moderna era impotente diante da complexidade da sua condição.

Registro do Diário de Victor Lancellotti “Mais um transplante. Mais uma cirurgia. Cada solução traz apenas meses, talvez um ano de sobrevida. Cada mão mecânica, cada pulmão substituído… são pequenas vitórias, mas também me afastam do que eu sou. Quanto tempo ainda tenho até não ser mais eu mesmo?”

Ah, Victor tentou de tudo. Cirurgias experimentais. Implantes biônicos. Terapias genéticas que estavam anos-luz de serem aprovadas para o uso em outros humanos. Nada disso importava; ele financiava qualquer pesquisa que prometesse um sopro de esperança. Sua obsessão era tanto pessoal quanto profissional: ele não podia suportar a ideia de deixar seu império nas mãos de outros. A morte não era apenas um fim; era uma afronta à sua crença de que ele podia controlar tudo.

Transcrição de Áudio de Victor, 3:47 AM: “Não é sobre vencer uma doença. É sobre vencer o destino. A morte é o destino de todos… mas e se não fosse? E se pudesse ser algo diferente para mim?”

Os danos físicos eram visíveis, mas os psicológicos? Ah, esses eram bem mais profundos. Imagine, caro leitor, perder o controle sobre o próprio corpo. Dia após dia, Victor assistia a si mesmo definhar, a sombra de sua antiga glória refletida nos olhos de sua equipe. Não havia terapia para lidar com o desespero constante de saber que cada solução era temporária, que cada nova promessa seria mais um fracasso acumulado.

Ele se tornou obcecado por controle. Controlar sua empresa, controlar sua equipe, controlar seu próprio corpo. As noites insones eram preenchidas com olhares fixos para telas que exibiam gráficos e relatórios que ele mal conseguia interpretar sozinho. A solidão o consumia, mas Victor jamais admitiria isso. Não para os outros. Talvez nem para si mesmo.

Victor sempre temeu que sua morte significasse o fim de tudo pelo qual lutou: seu império, sua influência, seu legado. Ele sabia que, no momento em que fechasse os olhos para sempre, seus concorrentes e os lobos políticos destruiriam o que ele havia construído. Seu nome, seu trabalho, tudo que simbolizava poder e gênio, poderia desaparecer como poeira ao vento.

Foi essa obsessão por permanência que o levou a uma decisão inevitável. Quando percebeu que a cura para sua doença estava fora de alcance pelos métodos tradicionais, Victor decidiu mudar o foco de sua empresa. O que antes era uma missão de salvar vidas humanas tornou-se uma corrida para garantir a longevidade extrema, uma “qualidade de vida” que ele podia vender — e que garantiria sua própria sobrevivência. Pelo menos, essa era a narrativa que ele apresentava ao público. No fundo, era apenas sobre ele.

Foi durante uma dessas buscas desesperadas que ele tropeçou, quase por acaso, em algo extraordinário. Sua equipe de cientistas, pressionada por prazos impossíveis e financiada por uma quantidade obscena de dinheiro, fez uma descoberta que ninguém esperava: uma forma de regenerar tecidos humanos de maneira indefinida. Algo que, teoricamente, poderia interromper o processo de envelhecimento. A imortalidade.

Ah, mas não se engane. Victor não buscava imortalidade — pelo menos não no início. Ele queria curar a si mesmo, encontrar uma solução para sua própria agonia. A imortalidade foi uma descoberta acidental, uma consequência inesperada de sua busca por um milagre.

Eu o observei naquela noite em que ele soube da descoberta. Ele estava em seu escritório, um lugar que refletia perfeitamente sua personalidade. A sala ampla exalava o mesmo nível de perfeccionismo de sua vestimenta. No centro, uma mesa imponente de madeira escura abrigava um computador com dois monitores que iluminavam o ambiente com sua luz fria. Estantes repletas de livros alinhados de forma impecável cobriam as paredes, sugerindo uma mente erudita, mas também organizada até o extremo. Cada detalhe, dos quadros abstratos pendurados à poltrona de couro impecável, revelava o homem que ali habitava.

Victor ficou em silêncio por minutos intermináveis, os olhos âmbar fixos nos relatórios diante de si. Aquele olhar, que antes exalava desespero, agora refletia algo diferente: um misto de ganância e alegria. Seus dedos traçavam lentamente as bordas do relatório, enquanto ele absorvia as implicações de cada linha. Naquele momento, o destino de Victor mudou. E, como eu sabia bem, o destino de todos os outros também.

Registro de Reunião Científica, confidencial: Cientista 1: “A tecnologia é instável. Não sabemos os efeitos colaterais em longo prazo. Estamos falando de alterações celulares radicais.” Victor: “Não me interessa o longo prazo. Me interessa o agora. Continuem. Façam funcionar. Eu pago o que for necessário.”

E assim, Victor não apenas desafiou o tempo. Ele declarou guerra contra ele. Uma guerra que, como em todas as guerras, teria vítimas e um preço alto a ser pago. E Victor, como descobriremos, não sairia ileso dessa batalha.