I – O Início do Crescimento
Os primeiros dias do grupo foram carregados de incertezas. Clara, Vanessa e Marcos sabiam que precisavam de aliados, mas a desconfiança e o medo eram constantes. Cada passo parecia cercado por sombras, tanto reais quanto metafóricas. Mesmo assim, eles persistiram. O movimento precisava crescer.
Trecho do diário de Clara: “Há momentos em que me pergunto se estou pronta para liderar algo tão grande. Mas então, lembro-me de Victor, da crueldade dele, e sei que não temos escolha. Cada dia é uma batalha, mas estou aprendendo a lutar.”
Clara assumiu a liderança na busca por novos membros. Ela começou a se conectar com ex-colegas da Lancellotti Futures, cientistas que haviam abandonado o projeto ao perceberem as implicações éticas de suas ações. Alguns eram hesitantes, mas Clara conseguiu convencê-los com provas do que Victor havia feito.
O primeiro a ser recrutado foi um jovem cientista chamado Eduardo, de cerca de 28 anos, um homem alto e magro, de pele morena e cabelos curtos e encaracolados. Eduardo trabalhava no departamento de desenvolvimento experimental da Lancellotti Futures, lidando diretamente com os dados e resultados dos experimentos mais sensíveis.
Ele era conhecido por sua mente brilhante e sua habilidade de decifrar padrões complexos. Além do acesso interno, Eduardo trouxe ao grupo uma compreensão profunda dos processos científicos da empresa e uma coragem inesperada de questionar o sistema por dentro. Seu conhecimento técnico e visão analítica começaram a moldar as operações estratégicas do movimento.
Vanessa, por outro lado, mergulhou em sua rede de contatos com uma determinação renovada. Ela começou a trabalhar com jornalistas investigativos, como Paula Mendes, uma repórter premiada conhecida por expor esquemas corporativos, e ativistas de ONGs como a Aliança pela Ética na Ciência, que já tinham tentado investigar a Lancellotti Futures sem sucesso. Seu tom calmo, mas apaixonado, conquistou essas pessoas gradualmente.
Vanessa organizava encontros discretos, muitas vezes em cafés movimentados para se perder na multidão, e trazia evidências coletadas por Eduardo e Clara para fortalecer seu discurso. Durante um desses encontros, Paula se comprometeu a investigar as denúncias e prometeu criar uma série de reportagens.
Além disso, Vanessa conseguiu convencer a Aliança a fornecer suporte logístico ao grupo, como advogados e especialistas em comunicação de crise. Ela escolhia cuidadosamente suas palavras, sabendo que um deslize poderia significar o fracasso de tudo.
Trecho do diário de Vanessa: “Falar com essas pessoas é como andar sobre gelo fino. Cada palavra precisa ser calculada. Não podemos parecer fanáticos, mas também não podemos ser apáticos. Estou aprendendo que meu papel aqui é mais importante do que imaginava. Às vezes, sinto que sou o elo entre a ação e a estratégia.”
Marcos, sempre meticuloso, focou na infraestrutura do grupo com um rigor impressionante. Ele se tornou responsável pela segurança tecnológica, criando sistemas de comunicação criptografados que garantiam que nenhuma mensagem pudesse ser interceptada. Além disso, desenvolveu ferramentas para monitorar os movimentos de Victor, antecipando ações adversárias.
Marcos também planejava operações futuras com precisão estratégica, usando mapas detalhados, padrões de movimentação e previsões baseadas em dados coletados por Eduardo. Ele evitava diretamente organizar reuniões, deixando isso para Clara e Vanessa, mas era o arquiteto por trás dos planos que surgiam dessas discussões.
Seu papel como planejador nato se destacou ainda mais quando começou a construir redes de refúgios seguros para os membros do grupo, locais discretos onde poderiam se encontrar ou se esconder, se necessário. Ele também estabeleceu protocolos de emergência que preparavam o grupo para reagir rapidamente a ameaças.
Trecho do diário de Marcos: “Ver Clara e Vanessa se conectando com as pessoas me inspira, mas também me lembra que preciso ser a base sólida para isso tudo. Não é apenas logística; é criar um espaço onde todos possam sentir que estão um passo à frente. Se falharmos nisso, tudo desmorona.”
II – Primeiras Reuniões e Planejamento
As primeiras reuniões do grupo foram realizadas em locais escolhidos com extremo cuidado. Casas abandonadas com janelas pregadas, galpões esquecidos com teto de zinco rangendo ao vento, e até clareiras escondidas nas florestas próximas à cidade serviram como espaços temporários para as discussões iniciais. Cada local era inspecionado por Marcos, que garantia que nenhum vestígio fosse deixado para trás.
Durante essas reuniões, o grupo compartilhava evidências coletadas e discutia estratégias de ação. Eduardo desempenhou um papel crucial, trazendo informações detalhadas sobre os novos experimentos conduzidos pela Lancellotti Futures. Ele revelou que os testes haviam avançado para uma nova fase, misturando experimentos em animais geneticamente modificados os testes em humanos, que já haviam sido iniciados, e que agora avançavam para estágios ainda mais arriscados.
Eduardo revelou que os experimentos estavam causando uma deterioração neurológica progressiva nos voluntários, levando a comportamentos erráticos e surtos de violência incontroláveis. Essas informações alarmaram o grupo, não apenas pela crueldade inerente, mas também pelo risco de que os experimentos fugissem do controle e causassem danos ainda maiores. Essas revelações fortaleceram a urgência de suas ações.
Vanessa, por sua vez, apresentou nomes de jornalistas como Paula Mendes, que estavam prontos para investigar e amplificar as denúncias. Ela também sugeriu como aproveitar o apoio da Aliança pela Ética na Ciência para obter suporte logístico. Durante as reuniões, Vanessa frequentemente assumia o papel de mediadora, ouvindo as ideias e moderando as diferenças entre os membros.
Marcos trouxe para o grupo os primeiros esboços de um plano que combinava sabotagem tecnológica com coleta estratégica de dados. Ele propôs interferir nos servidores da Lancellotti Futures, usando os mapas e rotas fornecidos por Eduardo. Seu plano inicial era inserir malware nos sistemas de controle da empresa para atrasar os experimentos sem levantar suspeitas imediatas.
Trecho do diário de Eduardo: “Eles são diferentes do que imaginei. Clara é direta, Marcos é meticuloso, e Vanessa… ela é a ponte. Sinto que finalmente estou do lado certo, mas tenho medo do que isso pode significar para mim.”
Cada reunião fortalecia o grupo, mas também revelava a complexidade de seu objetivo. Era um equilíbrio delicado entre cautela e ação, entre ética e necessidade. A determinação dos membros era palpável, mas os desafios ainda eram imensos.
III – Os Dilemas Éticos
Com o crescimento do grupo, os primeiros conflitos internos começaram a surgir. Clara e Vanessa acreditavam que, embora as práticas de Victor fossem monstruosas, havia um potencial de usar a pesquisa de forma benéfica para a humanidade. Clara, devido às mudanças em seu próprio corpo, via possibilidades de aprimorar a qualidade de vida humana. Vanessa, com sua experiência na área da saúde, argumentava que, com uma abordagem ética, essa tecnologia poderia trazer oportunidades de cura e longevidade para muitos.
Por outro lado, Marcos e Eduardo discordavam completamente. Para Marcos, a ideia de preservar algo que causou tanto sofrimento era inconcebível. Eduardo, mais pessoal em sua objeção, revelou que sua irmã mais nova havia sido parte dos experimentos e vivia com sequelas severas. Ele não via redenção na tecnologia de Victor, apenas uma repetição de erros dolorosos.
As discussões eram intensas, mas Clara, com sua liderança estratégica, tentava manter o equilíbrio, mediando as diferenças e mantendo o grupo focado no objetivo maior.
Trecho do diário de Clara: “Somos um grupo pequeno enfrentando um gigante. Não podemos nos dar ao luxo de sermos impulsivos, mas também não podemos hesitar. Cada decisão parece um jogo de xadrez, e eu sinto que estou aprendendo as regras enquanto jogo.”
No entanto, o grupo concordou em avançar com pequenos ataques simbólicos. A primeira dessas ações foi destruir um lote de equipamentos destinados a novos experimentos. Apesar de pequeno, o impacto foi sentido dentro da Lancellotti Futures.
Trecho do diário de Vanessa: “Eu ainda acredito que podemos usar essa pesquisa para o bem, mas não posso negar que ver aquele equipamento destruído trouxe um alívio que eu não esperava. Talvez precisemos encontrar um equilíbrio entre a destruição e a reconstrução.”
Trecho do diário de Eduardo: “Falar sobre o potencial da pesquisa me deixa enjoado. Como podemos usar algo que causou tanta dor? Minha irmã ainda sofre por causa dessa tecnologia. Para mim, a única escolha é apagar tudo antes que cause mais danos.”
O grupo, ainda em sua fase inicial, começava a encontrar sua identidade. Entre dilemas e vitórias, a semente de uma resistência mais organizada estava plantada.