O Preço da Eternidade, Capítulo 14: A Reação do Grupo – Fortalecimento e Evolução

O grupo enfrenta desafios internos e externos enquanto planeja sabotagens contra Victor. Clara lidera, Vanessa busca redenção e Marcos lida com sua culpa, enquanto tentam ampliar sua rede de aliados.

Recuperando-se da Retaliação

Os dias seguintes à descoberta do esconderijo abandonado foram marcados por uma atmosfera pesada. O grupo estava abalado, não apenas pela perda de um espaço seguro, mas pelo impacto emocional de saber que Victor Lancellotti havia chegado tão perto. A sensação de vulnerabilidade pairava sobre eles como uma nuvem carregada, pronta para desabar a qualquer momento.

Clara Cardoso, agora mais do que nunca no papel de líder, observava seus companheiros com olhos atentos. Cada rosto refletia o peso da situação: Vanessa, com sua culpa já quase palpável, parecia ainda mais retraída; Marcos, normalmente calmo e metódico, exibia sinais de tensão em suas mãos trêmulas enquanto revisava os planos de segurança; e Eduardo, o mais recente membro do grupo, parecia prestes a desistir.

Eduardo era jovem, talvez o mais inexperiente entre eles quando se tratava de confrontar diretamente o poder implacável de Victor Lancellotti. Ele havia se juntado ao grupo movido por uma mistura de idealismo e necessidade, carregando consigo cicatrizes invisíveis que nem sempre eram evidentes para os outros. Seu envolvimento inicial com a Lancellotti Futures fora motivado pela promessa de inovação científica — algo que ele acreditava poder mudar o mundo. No entanto, o que encontrou lá dentro foi muito diferente: corredores cheios de segredos sombrios, experimentos cruéis e decisões tomadas sem qualquer consideração ética.

Agora, sentado à mesa improvisada naquele esconderijo precário, Eduardo mantinha os olhos fixos nos papéis à sua frente, mas sua mente estava longe. Ele pensava em sua irmã mais nova, Isabela, cujo nome raramente mencionava, mas cuja presença assombrava cada decisão que tomava. Ela havia sido uma das “voluntárias” dos primeiros testes conduzidos pela empresa, convencida pelas promessas de cura e esperança que mascaravam a verdade cruel. Hoje, Isabela vivia sob os efeitos devastadores daquelas experiências: seu corpo debilitado, sua mente presa em um labirinto de confusão e dor. Para Eduardo, essa não era apenas uma luta contra Victor ou a Lancellotti Futures — era pessoal. Era uma tentativa desesperada de garantir que ninguém mais sofresse como ela.

Mas, apesar de sua determinação, Eduardo sentia o peso crescente da realidade. Ele não estava acostumado às sombras, aos encontros secretos e às constantes ameaças de ser descoberto. Sua postura revelava isso: os ombros curvados, as mãos apertando nervosamente a borda da mesa, os olhos evitando contato direto com os outros. Ele queria acreditar que fazia parte de algo maior, que suas contribuições importavam, mas havia momentos em que tudo parecia inútil. Como alguém tão jovem, tão inexperiente, poderia enfrentar um homem como Victor?

Trecho do diário de Eduardo: “Hoje, vi medo nos olhos deles. Não apenas medo de Victor, mas medo de falhar, de morrer sem deixar marcas. Eu também sinto isso. Mas desistir agora… isso seria jogar fora tudo pelo que Lucas lutou. Preciso encontrar forças, mesmo que elas pareçam distantes.”

Enquanto Clara observava Eduardo, ela percebeu que ele estava à beira de um colapso emocional. Ele era brilhante, sem dúvida — sua capacidade de decifrar padrões complexos e analisar dados era inestimável para o grupo. Mas sua vulnerabilidade era evidente, e Clara sabia que precisava abordá-lo antes que ele se afastasse completamente.

— Eduardo — chamou Clara, sua voz suave, mas firme, cortando o silêncio tenso da sala. — Precisamos conversar.

Ele ergueu os olhos, hesitante, como se temesse o que ela diria. Clara puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dele, sua postura transmitindo uma calma que contrastava com a agitação interna que todos sentiam.

— Sei que está difícil — continuou Clara. — Sei que você carrega mais do que deveria. Mas também sei que sua mente é uma arma poderosa. Precisamos dela aqui. Precisamos de você.

Eduardo abaixou os olhos novamente, mas Clara notou um leve tremor em seus lábios, como se ele estivesse lutando contra as emoções.

— E se eu não for forte o suficiente? — murmurou ele, quase inaudível.

— Ninguém aqui é — respondeu Clara, sua voz sincera. — Mas juntos, podemos ser mais fortes do que jamais seríamos sozinhos. Você não precisa enfrentar isso sozinho, Eduardo. Nenhum de nós precisa.

Vanessa, que até então permanecera em silêncio, aproximou-se lentamente. Seu olhar encontrou o de Eduardo, e ela falou com uma calma que surpreendeu a todos:

— Eu sei o que é perder alguém que você ama para esses experimentos. A dor nunca vai embora. Mas ficar parado, desistir… isso só dá mais poder a Victor. Se você sair agora, ele vence. É isso que você quer?

Eduardo hesitou, seus olhos alternando entre Clara e Vanessa. Ele sabia que elas estavam certas, mas a ideia de continuar parecia insuportável. Ainda assim, algo em suas palavras o tocou. Ele respirou fundo, como se reunisse forças que nem sabia que tinha.

— O que vocês precisam que eu faça? — perguntou finalmente, sua voz firme pela primeira vez em dias.

Clara sorriu, um gesto pequeno, mas significativo. Ela sabia que aquela era uma vitória pequena, mas crucial. Juntos, eles começariam a reconstruir não apenas o grupo, mas também a si mesmos.

Reavaliando a Estratégia

Clara Cardoso sempre soube que enfrentar Victor Lancellotti seria como lutar contra uma tempestade — algo imenso, implacável e com recursos infinitos. No entanto, o avanço da vigilância de Victor e as crescentes perdas dentro do grupo começaram a pesar sobre ela. As sabotagens isoladas, embora simbolicamente poderosas, não estavam mais sendo suficientes para abalar os alicerces da Lancellotti Futures. Era hora de repensar tudo.

Sentada em um canto escuro de um galpão abandonado, Clara folheava os relatórios detalhados que Eduardo havia compilado, enquanto Marcos revisava os mapas de movimentação das equipes de segurança de Victor. Vanessa, por sua vez, estava absorta em seus próprios pensamentos, rabiscando ideias no caderno que carregava consigo. O silêncio entre eles era denso, mas carregado de urgência.

— Isso não está funcionando — disse Clara finalmente, quebrando o silêncio. Sua voz era firme, mas havia um tom de frustração subjacente. — Estamos reagindo, não liderando. Victor está sempre um passo à frente porque ele conhece nossas fraquezas melhor do que nós mesmos.

Marcos ergueu os olhos dos mapas, ajustando os óculos no rosto. Ele sabia que Clara estava certa. Cada sabotagem vinha acompanhada de um contra-ataque quase imediato, como se Victor já estivesse esperando por isso. A paranoia dentro do grupo também aumentava; ninguém sabia ao certo se havia sido infiltrado ou se algum erro tático os havia exposto.

— Precisamos mudar nossa estrutura — continuou Clara, levantando-se e caminhando até o centro da sala. — Até agora, agimos como células independentes, cada um focado em sua área de expertise. Mas isso nos torna vulneráveis. Se um de nós falhar, todos caem.

Vanessa ergueu os olhos de seu caderno, hesitante. — E o que você sugere? Não podemos simplesmente centralizar tudo. Isso só aumentaria o risco.

Clara balançou a cabeça, antecipando a objeção. — Não é sobre centralizar, é sobre coordenar. Cada um de nós continua com suas responsabilidades, mas precisamos criar uma rede de redundâncias. Se alguém for capturado ou comprometido, os outros devem ser capazes de continuar sem perder o ritmo.

Ela pegou um marcador e começou a desenhar um diagrama rudimentar em uma parede de metal enferrujada. — Primeiro, vamos dividir o grupo em três células principais: inteligência, operações e logística. Eduardo lidera a inteligência, usando seus dados para prever os próximos passos de Victor. Marcos, você assume a segurança interna e externa, garantindo que nossas comunicações permaneçam criptografadas e que nossos esconderijos sejam inatingíveis. Vanessa, você será responsável pela logística e pelos contatos externos. Jornalistas, aliados políticos, qualquer pessoa que possa amplificar nossa mensagem.

Eduardo franziu a testa, analisando o plano. — Isso parece… ambicioso. Mas como garantimos que Victor não consiga infiltrar novamente?

— Protocolos de segurança — respondeu Marcos rapidamente, como se já tivesse pensado nisso antes. — Vamos implementar um sistema de autenticação em camadas. Cada membro do grupo terá um código único que muda diariamente, gerado por um algoritmo que só eu e Clara conhecemos. Além disso, limitaremos o acesso às informações apenas ao necessário. Ninguém precisa saber tudo.

Vanessa assentiu lentamente, ainda processando as mudanças. — E quanto aos novos recrutas? Como vamos confiar neles?

Clara cruzou os braços, encarando o grupo. — Esse é o maior risco, mas também nossa única chance de crescer. Cada novo membro será submetido a um período de observação rigorosa. Eles só terão acesso às operações depois de provarem sua lealdade e capacidade. Não podemos nos dar ao luxo de ser complacentes.

O silêncio voltou a dominar a sala enquanto cada um refletia sobre as implicações do novo plano. Era arriscado, mas também necessário. Victor havia mostrado que não hesitaria em usar todos os recursos à sua disposição para esmagá-los. Para sobreviver, eles precisavam ser mais organizados, mais resilientes e, acima de tudo, mais unidos.

Trecho do diário de Clara Cardoso: “Hoje, tomei uma decisão que pode mudar tudo. Reorganizei o grupo, criando uma estrutura que nunca pensei que precisaríamos. É um risco, mas ficar parada é ainda mais perigoso. Victor quer nos ver fracos, divididos. Vamos provar que ele está errado.”

Trecho do diário de Marcos: “Clara está certa. Precisamos de protocolos mais rígidos. Implementei um sistema de criptografia que nem mesmo Victor poderá quebrar facilmente. Mas sei que isso não será suficiente. A guerra que estamos travando não é apenas contra ele; é contra o medo que ele planta em nossas mentes.”

Trecho do diário de Vanessa: “Confiança é uma palavra frágil aqui. Concordo com o plano, mas não posso deixar de pensar: e se formos traídos novamente? Talvez essa seja a verdadeira batalha — aprender a confiar quando tudo diz para não fazê-lo.”

Com a nova estratégia em vigor, o grupo começou a operar de maneira mais disciplinada, preparando-se para o confronto inevitável com Victor. Eles sabiam que o próximo passo seria decisivo — não apenas para sua sobrevivência, mas para o futuro de todos aqueles que Victor colocava em risco.