A Fúria da Bruxa, capítulo 4: A Fuga de Cateline

Entre na jornada de Cateline, uma mulher determinada a escapar da prisão dourada de sua vida e enfrentar o desconhecido. Em Plockton, onde gritos ecoam e sombras guardam segredos, liberdade e medo caminham lado a lado. Descubra como a chama da esperança pode iluminar até as noites mais escuras.

O sol se punha em Plockton, tingindo o horizonte com tons de laranja e violeta, enquanto Cateline observava as sombras se alongarem pela aldeia. No conforto forjado da mansão do prefeito, ela se movia silenciosa como um fantasma, calculando cada passo de sua fuga. Aquela noite seria sua última sob o teto de Eloys.

Casada contra sua vontade com o homem mais odiado e temido do vilarejo, Cateline era prisioneira de uma vida que não escolhera. Eloys, com suas palavras macias e promessas de segurança, a arrancara da pobreza na França apenas para confiná-la em uma jaula dourada. “Você me deve tudo”, ele sempre dizia, sua voz carregada de um ego inflado que mascarava suas próprias inseguranças. Mas Cateline sabia que não devia nada a ele. Tudo que possuía havia sido conquistado com sua paciência, astúcia e esperança de um dia ser livre.

Naquela manhã, ela soubera que a execução de Elara aconteceria ao entardecer. Eloys estava ocupado demais liderando o vilarejo em seu ato macabro de “justiça” para notar o olhar distante e os movimentos cuidadosos de sua esposa. Enquanto ele se preparava para o espetáculo, ela se preparava para escapar.

Cateline caminhou até o quarto onde mantinha suas coisas. Sob o assoalho solto, guardava um pequeno saco com tudo o que tinha no mundo: algumas moedas de prata, um pedaço de pão duro e uma pequena cruz de madeira que sua mãe lhe dera antes de morrer. Era pouco, mas era o suficiente para recomeçar. Ela vestiu um manto escuro para se misturar às sombras da noite e calçou botas de couro que Eloys jamais notaria estar ausentes.

Enquanto a noite caía e os gritos da multidão ecoavam vindos da praça, Cateline deslizou pela cozinha, onde os serviçais estavam ocupados fofocando sobre a execução. Seguindo pelos corredores, alcançou a porta dos fundos, que rangeu levemente ao abrir. Ela congelou, o coração martelando no peito, mas ninguém pareceu ouvir.

Fora da mansão, o ar da noite era frio e carregado de umidade. Cateline apressou o passo, atravessando os jardins com o coração pesado e uma mistura de medo e esperança ardendo em seu peito. Cada passo a afastava mais da prisão que fora sua vida, mas também a aproximava do desconhecido.

Ela sabia que Eloys não descansaria até encontrá-la. Ele não tolerava falhas, muito menos rejeição. Mas, pela primeira vez em anos, Cateline sentiu a chama da liberdade iluminando sua escuridão. Era uma centelha pequena, frágil, mas suficiente para guiá-la.

Enquanto caminhava para fora do vilarejo, Cateline não podia deixar de notar os detalhes do lugar que tanto odiava. Plockton era um vilarejo miserável, onde o odor de madeira podre e lama impregnava o ar, e as casas, com suas paredes rachadas e telhados afundados, pareciam lutar para se manter de pé. Apesar disso, o povo aceitava sua miséria com uma resignação amarga, alimentada pelas palavras suaves de Eloys, que culpava bruxas e falta de recursos para justificar a subsistência ínfima que oferecia a eles. A própria mansão do prefeito era um reflexo de sua hipocrisia: por fora, uma construção tão desgastada quanto o resto do vilarejo, mas por dentro, ostentava luxos que nenhum aldeão ousaria sonhar.

Ela olhou para trás apenas uma vez, observando as chamas que iluminavam a praça onde os aldeões gritavam: “QUEIMEM A BRUXA!”, enquanto Elara aguardava seu destino. Cateline não conhecia a mulher, mas algo dentro dela desejava que Elara também encontrasse paz — talvez em outro mundo, talvez no mesmo para onde ela estava indo.

Quando finalmente desapareceu na floresta, Cateline permitiu-se respirar fundo. O cheiro de terra úmada e pinho invadiu seus sentidos, trazendo uma calma que ela não sentia havia anos. Agora, o futuro era um mistério, mas também uma promessa. Ela seria dona de sua própria história e, de alguma forma, sabia que aquele não era o fim. O destino ainda lhe guardava encontros que moldariam seu caminho e, talvez, sua humanidade perdida se cruzasse com algo ou alguém que pudesse devolvê-la a Elara.