A Fúria da Bruxa, capítulo 8: Cateline Enfrenta suas Feridas

Cateline, acolhida na cabana de Elara, é confrontada com as palavras afiadas da bruxa, que a força a encarar seu ódio e ressentimento por Plockton. Enquanto tenta justificar sua raiva, Elara a provoca, deixando-a questionar se seu ódio é uma prisão maior que a própria maldição.

O aroma agradável de pão fresco e ervas recém-colhidas trouxe Cateline de volta à consciência. Ela abriu os olhos devagar, ajustando-se à luz suave que entrava pela janela do pequeno quarto. Por um momento, quase esqueceu-se de onde estava. O calor da cama e o perfume reconfortante que preenchia o ar contrastavam com os horrores da noite anterior. Mas logo as memórias voltaram, trazendo consigo a inquietação.

Ela se levantou, arrumou-se como pôde e saiu do quarto. A visão da mesa posta na pequena cozinha foi ao mesmo tempo acolhedora e desconcertante. Elara estava sentada em silêncio, cortando frutas com uma precisão quase ritualística. Sem levantar os olhos, indicou a cadeira em frente a ela.

“Sente-se,” disse Elara, sua voz serena e firme. “Coma algo.”

Cateline obedeceu, mas a tensão em seu peito era palpável. Ela pegou um pedaço de pão e mastigou lentamente, tentando encontrar palavras para romper o silêncio opressor. Elara parecia imperturbável, como se estivesse esperando algo.

Finalmente, Cateline falou: “O que você quer de mim?” Sua voz carregava um misto de desafio e vulnerabilidade.

Elara ergueu os olhos, encarando-a com um olhar que parecia atravessá-la. “Quero nada de você, Cateline. O que você fará, isso sim, é o que importa.”

Cateline franziu a testa, confusa e frustrada. “Por que você diz essas coisas? Você joga palavras no ar como enigmas, mas nunca dá respostas.”

Elara inclinou-se levemente para frente. “Porque respostas prontas não têm valor. Você quer ser conduzida, ou quer descobrir por que você está aqui, enquanto outros não?”

A pergunta ficou pairando no ar. Cateline desviou o olhar, sentindo-se desconfortável sob o peso daquelas palavras. Mas antes que pudesse responder, Elara continuou:

“Você odeia Plockton. Eu vejo isso nos seus olhos. Mas me diga: esse ódio ajuda você? Ele faz algo além de consumir tudo o que você é?”

Cateline sentiu o sangue ferver. “Eu odeio porque eles merecem! Eles ignoraram o que eu sofri, o que tantas pessoas sofreram! Eu pedi ajuda, Elara. Pedi ajuda a eles! E sabe o que fizeram? Nada! Fecharam os olhos enquanto aquele maldito prefeito destruía minha vida. Eles diziam: ‘Ele é o prefeito, Cateline. Ele sabe o que faz. Seja grata!’ Grata? Por noites de dor, fome e humilhação? Como alguém pode esperar algo de mim depois disso?”

Elara ergueu uma sobrancelha, suas palavras carregando um tom de provocação. “E ainda assim, você está viva. Você sobreviveu a tudo o que fizeram. Pergunte-se por que. Pergunte-se por que você, entre tantos, encontrou este lugar. Não acha curioso?”

Elara sorriu levemente, um sorriso mais de desafio do que de conforto. “Você está tão presa ao ódio quanto eles estão à ignorância. Não é uma questão de o que eles merecem. É sobre o que você escolherá fazer com o que sente.”

Cateline se levantou abruptamente, a cadeira rangendo sob o movimento. “Você não entende! Eles destruíram minha vida. E a sua também, pelo que vejo! Por que você não os deixa apodrecer na própria podridão?”

Elara permaneceu inabalável. “Eu deixo. A maldição está aí, não está? Mas, curiosamente, você está aqui, sentada comigo, ao invés de estar lá fora celebrando a destruição deles. Pergunte-se por quê.”

O silêncio tomou conta da sala novamente, denso e pesado. Cateline queria gritar, chorar, ou talvez sair correndo, mas algo a prendia ali. Elara, calmamente, voltou a cortar as frutas, como se a conversa fosse apenas mais um momento rotineiro.

“Você não é obrigada a fazer nada,” disse Elara, por fim. “Mas saiba que o mundo tem um jeito estranho de reagir às nossas ações. Suas escolhas podem se refletir de formas que você nem imagina. Isso é o que torna tudo… interessante.” Ela sorriu de canto, um brilho enigmático nos olhos.

Cateline sentou-se novamente, mas não comeu mais. As palavras de Elara ecoavam em sua mente como um enigma impossível de resolver, deixando a sensação incômoda de que havia algo que apenas ela poderia desvendar ou fazer. Por mais que quisesse negar, uma parte de si se perguntava se realmente era coincidência que estivesse ali, naquele momento, com aquela mulher. Pela primeira vez, sentiu que estava diante de algo maior do que sua própria dor, algo que não conseguia compreender totalmente, mas que não podia ignorar.