Epílogo – O Último Ato

O circo desaparece com a manhã, deixando apenas uma cadeira e um livro queimado no centro da praça. Sobre as páginas, uma frase ecoa ao vento: “As histórias nunca morrem. Nem aqueles que as escrevem.” O espetáculo terminou, mas seus sussurros permanecem.

A manhã amanheceu fria e nublada, como se a cidade tivesse se coberto de um véu cinzento. A praça, que na noite anterior fora palco de um espetáculo macabro, estava vazia. Não havia sinal do circo, das luzes ou da tenda negra que parecia respirar no escuro.

O vento soprava devagar, carregando o cheiro de ferrugem e folhas secas. No centro da praça, onde a lona estivera, havia apenas uma cadeira antiga, desgastada e manchada de fuligem. Sobre ela, um pequeno livro queimado repousava, suas páginas enegrecidas pelas bordas, mas intactas o suficiente para contar uma última história.

Passantes caminhavam apressados, desviando o olhar, como se não quisessem enxergar algo que não deveria estar ali. Ninguém parecia lembrar do espetáculo. Ninguém falava sobre o homem que entrara no circo e nunca mais saíra.

Mas o livro continuava lá, aberto pelo vento, suas páginas dançando lentamente. As palavras escritas à mão eram frágeis, trêmulas, como se contassem uma história há muito esquecida:

“Se um dia eu desaparecer, será porque as palavras sobreviveram a mim. E elas sempre sobrevivem.”

Por um instante, o vento se intensificou, e um pedaço de papel solto voou até a grama úmida. Nele, uma única frase se destacava, escrita em tinta vermelha:

“As histórias nunca morrem. Nem aqueles que as escrevem.”

Ao longe, alguém parou. Uma mulher de casaco longo e cabelos soltos observou a cena com curiosidade. Ela se aproximou, inclinando-se para pegar o livro, os dedos tocando as páginas queimadas com delicadeza. Por um segundo, o mundo ao redor pareceu mais quieto, mais pesado.

Ela sorriu — um sorriso pequeno, quase imperceptível — e sussurrou para si mesma:

“O espetáculo foi lindo.”

E então, como se nada tivesse acontecido, ela continuou seu caminho.

A praça voltou a ficar vazia. O livro, no entanto, permaneceu aberto, suas palavras expostas ao céu cinzento. E quem passasse perto o suficiente, poderia jurar ouvir um sussurro distante, quase levado pelo vento:

“As histórias sempre têm um final. Mesmo as nossas.”