O Último Ato, capítulo 3: O Circo – O Primeiro Ato (Presente)

Dentro do circo, o espetáculo começa. Uma figura surge no palco, envolta em sombras e mistério. Cenários de memórias há muito esquecidas ganham vida, expondo verdades incômodas. Ele vê o passado que queimou, mas ainda não entende: quem é a apresentadora do espetáculo?

O som seco das cortinas se fechando atrás dele fez o coração saltar. Ele se virou instintivamente, mas a entrada havia desaparecido. Tudo atrás dele era apenas uma mancha negra, uma escuridão que parecia viva, respirando com um ritmo lento e abafado.

— Isso é só um show… só um maldito show. — Ele murmurou para si mesmo, tentando firmar a respiração.

As luzes explodiram com um brilho pálido. A plateia apareceu diante dele — fileiras e mais fileiras de cadeiras antigas, ocupadas por figuras imóveis. Ele não conseguia distinguir os rostos. Eram apenas silhuetas pálidas, como bonecos esquecidos. Mas havia algo terrível no jeito que todas as cabeças estavam levemente viradas para ele, como se esperassem por algo.

No centro da tenda, um palco se revelou, seus contornos desenhados por filetes de luz. As cortinas negras se abriram com um ranger arrastado, e ele sentiu o peito apertar.

Uma figura surgiu no meio do palco.

A primeira coisa que ele notou foram as mãos dela — brancas demais, entrelaçadas suavemente em frente ao corpo. O vestido longo e negro caía em ondas, roçando o chão como se feito de sombras. A cabeça estava baixa, os cabelos escuros cobriam o rosto, e o corpo imóvel parecia o de uma estátua.

Ele engoliu em seco.

“Senhoras e senhores…”

A voz ecoou pelo espaço, doce e distorcida, como uma canção arranhada num vinil antigo. Ele sentiu algo familiar naquelas palavras, mas o tom era errado — doce demais, controlado demais.

“…Bem-vindos ao espetáculo mais aguardado desta noite. O Último Ato, onde tudo será revelado.”

A figura ergueu a cabeça lentamente. Uma luz fraca, amarelada, iluminou apenas o contorno do rosto dela. Ele não pôde ver os olhos, mas sentiu o peso do olhar fixo nele.

Algo frio desceu por sua espinha.

“Quem é você?” — Sua voz saiu seca, quase falhada.

O silêncio da plateia se aprofundou, e por um segundo ele achou que ninguém mais respirava além dele. A figura sorriu. Ele não viu o sorriso, mas soube que ela sorria.

“Um anfitrião não se apresenta logo no início, não é mesmo? Primeiro, há que se contar uma história.”

Ela estalou os dedos, e as cortinas do fundo se abriram com violência. O som foi como o de mil portas se batendo ao mesmo tempo. Atrás dela, um novo cenário surgiu.

Ele prendeu a respiração. Era familiar demais.

Um sofá desgastado, uma pequena mesa com uma xícara lascada, e a estante torta de madeira. Era a sala deles, recriada com uma perfeição que o fez sentir que estava de volta àquele lugar.

“O que é isso? — Ele sussurrou.

“O começo.” — A voz dela era um sussurro, mas soou alta demais, como se estivesse dentro da cabeça dele.

Duas silhuetas surgiram no palco. Uma mulher sentada no chão, um caderno aberto no colo, a cabeça inclinada, o cabelo caindo sobre o rosto. Ao lado dela, um homem de pé, com os braços cruzados, observando-a com impaciência.

— Não… não. Isso não é real.

As silhuetas começaram a se mover. A mulher escrevia, devagar, os dedos deslizando pela página, enquanto o homem a encarava. Ele conhecia aquele momento. Podia sentir o cheiro do chá que ela tomava. Podia ouvir a irritação na própria voz.

“Você vive demais nesse caderno.”

Ele fechou os olhos com força.

“Parem com isso!”

A figura no palco soltou uma risada baixa, suave, que reverberou pela tenda inteira.

“Estamos apenas começando. O Primeiro Ato não pode ser interrompido.”

No palco, o homem arrancou o caderno das mãos da mulher, e ela se encolheu. Ele viu o rosto dela se levantar — um rosto de sombras, mas mesmo assim era ela. Um grito mudo se formou nos lábios dela enquanto o homem abria o diário, rasgava páginas, queimava palavras.

“Não!” — Ele gritou, a voz ecoando de volta para ele.

A figura no palco o encarava novamente. Ele finalmente viu o rosto dela sob a luz fraca: pálido como porcelana, com pequenas rachaduras que pareciam se estender lentamente. Um sorriso cortava seu rosto, cruel e afiado demais.

“Você se lembra, não é?”

Ele tropeçou para trás, as mãos buscando apoio, mas o chão sob ele parecia se mover. As silhuetas da plateia se levantaram lentamente, seus movimentos quebrados, como bonecos desengonçados.

Ela deu mais um passo à frente, a sombra dela se alongando como um manto.

“O espetáculo tem que continuar.”

Ele gritou de novo, mas desta vez, ninguém o ouviu.