O Intruso, capítulo 2: Mergulho na Escuridão

Joana decide enfrentar o intruso explorando livros antigos e rituais místicos. Ela descobre que ele se alimenta de seus medos e sentimentos reprimidos. Ao enfrentá-lo em sonhos e rituais, percebe pequenos padrões, mas cada vitória parece fortalecer o intruso, tornando-o mais adaptável e perigoso.

Joana sabia que não poderia fugir. Cada passo em sua rotina era seguido pela presença do intruso, uma sombra constante que se alimentava de seus temores e dores. Decidida a entender e enfrentar essa força, ela mergulhou em uma jornada solitária em busca de respostas.

Seu primeiro movimento foi explorar os livros antigos da biblioteca onde trabalhava. Dentre eles, encontrou um volume desgastado intitulado “A Escuridão Interior: Portais e Guardiões”. As páginas continham relatos de figuras míticas que enfrentaram as sombras de suas almas e instruções crípticas sobre rituais de enfrentamento. Uma frase ficou gravada em sua mente: “Aquilo que você teme é parte de você; rejeite-o, e ele o destruirá.”

Determinada a seguir as pistas, Joana começou a reunir os elementos descritos nos textos: velas negras, espelhos antigos e um pequeno frasco de sal. Quando iniciou o primeiro ritual, sentiu o ar ao seu redor pesar. Enquanto pronunciava as palavras anotadas no livro, o intruso apareceu, não como uma visão, mas como uma presença física.

“Você realmente acha que palavras e truques me afastariam?” A voz dele reverberou pelas paredes, enquanto a chama da vela oscilava e finalmente se apagava. “Eu sou mais antigo que qualquer encantamento que você possa recitar.”

Joana se ergueu, tentando não demonstrar medo. “Eu não quero que você me proteja. Não preciso de você.”

Ele se aproximou, a sombra dele cobrindo-a como um manto gelado. “Você mente para si mesma, Joana. Eu não sou um estranho; sou a única parte verdadeira de você. Sem mim, você é fraca.”

Por um breve momento, Joana achou que estava perdendo o controle. Mas ela concentrou-se, recitando em sua mente as palavras que havia lido no livro. Uma luz fraca surgiu da vela, e o intruso recuou, seu corpo ondulando como uma fumaça que quase se dissipava.

“Interessante,” ele disse, com um sorriso enviesado. “Você conseguiu me ferir. Mas acha que isso será suficiente?”

Nos dias seguintes, Joana percebeu que os confrontos estavam ficando mais complexos. Durante uma manhã no trabalho, enquanto organizava livros, ela viu a sombra dele se mover entre as prateleiras. “Você nunca estará sozinha, Joana,” ele sussurrou, tão próximo que parecia estar ao seu lado.

Dessa vez, ela não fugiu. “Então pare de se esconder e mostre quem você realmente é,” ela desafiou. O intruso emergiu parcialmente da escuridão, mais definido, mas ainda envolto em sombras pulsantes.

“Cuidado com o que pede,” ele disse. “Você pode não gostar do que verá.”

À noite, os sonhos se transformaram em armadilhas. Numa dessas ocasiões, ela encontrou o intruso sentado em uma cadeira, como se a esperasse. “Sente-se,” ele disse, com um gesto teatral. “Vamos conversar.”

Relutante, Joana se aproximou. “Você só me atormenta porque tem medo que eu consiga te expulsar.”

Ele riu, um som que ecoou pelas paredes do espaço onírico. “Expulsar? Eu sou parte de você, e você sabe disso. Você pode lutar, mas no final, eu sempre estarei aqui. Cada vez que você duvida, que sente raiva, que teme… eu me fortaleço.”

Mas dessa vez, Joana sorriu. “Se é assim, então talvez eu possa controlá-lo.” Ela estendeu a mão, e o intruso pareceu hesitar por um momento antes de recuar bruscamente.

“Você está brincando com fogo,” ele disse, a voz mais baixa, quase um rosnado. “Eu sou mais forte do que você imagina.”

Acordando suada, Joana sentiu que havia conseguido uma pequena vitória. Mas conforme os dias passavam, o intruso ficava mais audacioso. Ele surgia em reflexos, murmurava segredos que ela não queria ouvir e jogava com suas emoções de formas cada vez mais sutis. Cada avanço que Joana fazia parecia torná-lo mais perigoso, como se ele também estivesse aprendendo com os confrontos.

Joana sabia que estava longe de vencer. A batalha estava apenas começando, e o intruso não era apenas um adversário. Ele era um espelho distorcido de tudo que ela temia enfrentar dentro de si mesma.